Os tremores, considerados como sinais de medo e fraqueza na nossa cultura, são na verdade mecanismos naturais e primitivos de autorregulação organísmica após eventos estressantes ou traumáticos. Eles permitem a descargado excesso de tensão muscular e de produtos químicos que sobrecarregam o corpo em virtude de um evento estressante, permitindo o retorno ao estado de descanso e relaxamento. (Berceli, 2006, 2007, 2010; Levine, 2004, 2009). O criador da técnica aponta que, embora cada um/a de nós possa facilmente engatilhar as respostas de estresse e ansiedade, temos mais dificuldades em desativar quando sua atividade não é mais necessária. Assim, as respostas de estresse podem persistir mesmo depois que o evento estressante já tenha passado. Os seres humanos são socializados para inibir e/ou amortecer os mecanismos naturais de alívio do estresse, utilizados pelos outros mamíferos. Isso porque os tremores são experienciados como movimentos não controláveis – e por isso frequentemente desconfortáveis – e são associados a medo e fraqueza. Gera-se, então, um descompasso entre o corpo e o ego, dificultando a recuperação natural (Berceli, 2006). A supressão se dá a partir de contrações musculares que impedem a descarga da tensão. Caso não haja oportunidade posterior de descarga, o corpo continua em estado de alerta, como se a situação de risco ainda estivesse presente, resultando em um estado constante de prontidão e estresse. Dessa forma, cria-se um ciclo psicofisiológico que levará à repetição do padrão crônico de proteção e defesa, associado ao quadro de transtorno do estresse pós-traumático. As reações pós-traumáticas, assim, derivam da excitação residual não descarregada. Por outro lado, o mecanismo natural de liberação, se permitido, envia ao cérebro um sinal de que o perigo passou e é então possível a recuperação e o retorno ao descanso (Berceli 2006, 2007, 2010; Levine, 2004, 2012; Scaer, 2001).
A sequência de movimentos para redução do estresse e do trauma – TRE – foi desenvolvida por David Berceli, terapeuta e pesquisador norte-americano. Estes exercícios têm demonstrado ser uma forma segura de redução do estresse, da ansiedade e das tensões corporais profundas. É também uma prática complementar muito útil no processo de restabelecimento pós-trauma. Todas as reações humanas aos traumas e situações estressantes estão relacionadas a uma combinação de aspectos psicológicos, neurológicos e fisiológicos. Essas reações são autônomas, inconscientes e instintivas e a anatomia, a neurologia e a bioquímica mudam durante a exposição a situações traumáticas e/ou estressantes. Os Exercícios para Liberação da Tensão e do Trauma (TRE) favorecem a liberação de contrações musculares profundas oriundas de traumas e choques, a liberação dos excessos bioquímicos produzidos pelo organismo depois das respostas de fuga, luta e congelamento e o retorno ao estado de relaxamento. Os tremores são induzidos a partir do centro de gravidade do corpo, o que facilita sua reverberação por todo o corpo, dissolvendo suas tensões. Depois dos exercícios, pode-se chegar a um estado de relaxamento muscular, profundo, ou pode-se chegar a um estado de muita disposição e vigor (Berceli & Napoli, 2006; Berceli, 2010).